sexta-feira, 29 de maio de 2015

Bumerangue

Queridos alunos,

Nesta semana, lemos uma fábula (chamada O Leão e o Ratinho) que trazia a seguinte moral: "Uma boa ação ganha outra." Depois dessa leitura, lembrei-me de uma entidade que trabalha por uma ideia parecida: que todos devemos praticar atos de gentileza e amor.

Essa entidade, chamada Life Vest Inside, produziu um vídeo em que mostra uma reação em cadeia (não sabe o que é isso? Que tal aproveitar que está na internet pra pesquisar?) lotada de boas ações:


O que acharam do vídeo? Conseguem perceber semelhanças entre a história que ele mostra e a que lemos em sala de aula?

O nome dessa campanha é Bumerangue. Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (4ª edição), essa palavra significa "Arma de arremesso usada pelos indígenas australianos, feita de madeira escavada e arqueada, e que, após descrever curvas, volta a um ponto próximo daquele de onde foi atirada."

Agora, por que vocês acham que a entidade escolheu justamente esse título para a campanha que fizeram? É claro que isso não foi feito por acaso, pois o título de qualquer tipo de texto (e vídeo é texto? Claro que sim!) é muito importante, e entender por que ele foi escolhido faz parte do processo de interpretação de um texto.

Bom final de semana,


Profª. Teresa Cristina

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O homem da favela

Queridos alunos,

Segue conto de Manuel Lobato, retirado do livro O fino do Conto, para leitura e reflexão:

O homem da favela


Dr. Levi dá plantão no Hospital dos Operários que fica perto de uma favela. Ele é meio conhecido na favela porque sobe o morro de vez em quando, em visita médica à Associação dos Deficientes Visuais. Mesmo assim, já foi assaltado nove vezes, sempre de manhã, quando está saindo do pátio em seu carro. Por causa disso, Dr. Levi anda prevenido. Não compra revólver mas, ao deixar o plantão, já vem com a chave do automóvel na mão, passos rápidos, abre a porta, entra depressa, liga o motor, engrena a marcha, acelera e dispara. Não se preocupa com os malandros que tentam abordá-lo na estrada.

A neblina prejudica a visão do médico nessa manhã de inverno. Ele aperta o dispositivo de água, liga o limpador que faz o semicírculo com seu rastro no para-brisa. Vê no meio da estrada, ainda distante, um pedestre que finge embriaguez. O marginal está um tanto desnorteado, meio aéreo, andando sem rumo, em ziguezague. Parece trazer um porrete na mão.

Dr. Levi será obrigado a diminuir a aceleração e a reduzir a marcha. Se o mau elemento continuar na pista, terá de frear. Se parar, poderá ser assaltado pela décima vez. O carro se aproxima do malandro. Ele usa boné com o bico puxado para frente, cobrindo-lhe a testa. Óculos escuros para disfarce, ensaia os cambaleios, tomba um pouco a cabeça, olha para cima, procura o sol que está aparecendo, sem pressa, com má vontade.

O médico, habituado a salvar vidas, tem ímpeto de matar. Acelera mais, joga o farol alto na cara do pilantra, buzina repetidas vezes. O mau-caráter faz que procura o acostamento, mas permanece na pista.

O carro vai atropelar o velhaco. Talvez até passe por cima dele, se continuar fingindo que está bêbado. Menos um para atrapalhar a vida de gente séria.

O esperto pressente o perigo, deve ter adivinhado que o automóvel não vai desviar-se dele, ouve de novo a buzina, o barulho do motor cada vez mais acelerado. De fato, o carro não desvia de seu intento. Obstinado, segue seu rumo. Vai tirar um fino.

O vivaldino é atingido de raspão, cambaleia agora de verdade, cai de lado. O cirurgião ouve o baque, sente o impacto do esbarro.

Vê pelo retrovisor interno a vítima caída à beira da estrada. O vidro de trás está embaçado, mas permite distinguir o vulto, imagem refratada. Gotas de água escorrem pelo vidro não como lágrimas e, sim, como bagas de suor pelo esforço da corrida. Não há piedade, há cansaço.

Dr. Levi nota que o retrovisor externo está torto, danificado. Diminui a marcha, abaixa o vidro lateral, tateia o retrovisor do lado de fora. O espelho está partido, sujo de sangue. O profissional se sente vingado, satisfeito, vitorioso, como se estivesse saindo do bloco cirúrgico, após delicada operação, na qual fica provada a sua frieza, competência, habilidade. O dom de salvar o semelhante e de também salvar-se.

No dia seguinte, ao cair da tarde, chega o plantonista ao Hospital dos Operários. Toma conhecimento do acidente. O paciente – algumas fraturas, escoriações – está fora de perigo. Deu entrada ontem de manhã, mal havia chegado o substituto do dr. Levi.

Na ficha, anotações sobre a vítima: funcionário da Associação. Seus pertences: recibo das mensalidades, uns trocados, óculos e bengala. Cego.

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Espero que tenham gostado. Anotem as dúvidas que tiverem durante a leitura para serem discutidas em sala de aula.

Até mais,


Profª. Teresa Cristina